Nós, Aline Mello e Edmilson Moura, na condição de cidadãos goianienses e membros fundadores da…
“Em se tratando de lei, cada palavra importa e pode mudar todo o contexto do que é proposto”, diz a arquiteta e moradora do Setor Sul, Márcia Guerrante
Diante da ameaça de transformações profundas a serem implementadas com o novo Plano Diretor, moradores do Setor Sul, Jaó e Marista se juntaram para defender a preservação do traçado histórico e da qualidade de vida nestes bairros tradicionais de Goiânia. A proposta do novo plano foi elaborada pela prefeitura de Goiânia e está em discussão na Câmara Municipal de Goiânia, onde já recebeu dezenas de emendas.
Por conta da pandemia, o debate tem sido feito de forma virtual e apesar de poder ser acompanhado pelos goianienses, os representantes dos bairros que correm o risco de serem severamente afetados pela proposta destacam que a voz muitas vezes fica restrita aos vereadores e aos convidados das audiências. Eles pontuam também que não há clareza sobre o que está sendo proposto. “Em se tratando de lei, cada palavra importa e pode mudar todo o contexto do que é proposto”, assegura a arquiteta Márcia Guerrante, moradora do Setor Sul.
Márcia afirma que o seu bairro tem sido alvo de grande interesse do mercado imobiliário, tanto por sua localização estratégica como pela grande oferta de área verde. Segundo a arquiteta, o maior medo dos moradores é que a região vire um “novo Parque Flamboyant” e receba prédios enormes, sem a estrutura e capacidade de absorção desse adensamento inadequado. “Querem construir prédios de 20, 30 andares na 90, o esgoto e o trânsito não comportam isso”, analisa.
“A verticalização desenfreada não se importa com o traçado histórico e com a qualidade de vida e mobilidade das pessoas. Já houve tentativas de aumentar [a verticalização] no Setor Sul. Há um tempo fizeram uma audiência na tentativa de vender áreas verdes, que chamaram de inservíveis, e nos mobilizamos contra”, explica a arquiteta ao lamentar o fato de alguns vereadores muitas vezes se deixarem levar por interesses próprios sem qualquer cuidado com a cidade.
Os moradores do Marista, Jaó e Setor Sul fizeram uma reunião na última semana para discutir como podem se organizar para preservar seus bairros e para alinhar as demandas semelhantes. Os movimentos do Jaó e do Setor Sul acionaram o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e pediram ajuda em relação ao que está sendo proposto e em busca de mais transparência e participação popular na tramitação do Plano Diretor na Câmara.
“A Câmara contratou a consultoria do ITCO e os vereadores começaram a defender seus interesses, desde então não sabemos mais o que está sendo proposto e isso não está sendo debatido com a população. Nem todo mundo tem acesso à internet e mesmo quem consegue, não tem sua fala assegurada. Sou conselheira do CAU [Conselho de Arquitetura e Urbanismo] e nós também pedimos transparência e mais tempo para os debates”, explica Márcia.
Em relação ao Jaó, uma das grandes questões é a chamada Rua da Divisa, que na prática é uma rua que traz o trânsito da rodovia para a cidade, partindo o Jaó no meio. “Será um eixo de verticalização muito grande que não leva em conta a preservação das características deste bairro. Falta sensibilidade e respeito à história”, avalia Guerrante. Já em relação ao Marista, a arquiteta aponta que já existe uma falta de área verdes e de praças, além da destruição de casas antigas e verticalização intensa. “Existem projetos que estão em fase avançada para a construção em áreas de nascentes”, aponta.
“O conceito de cidade compacta no mundo todo funciona levando em conta a qualidade de vida. Não é só amontoar as pessoas. Aqui defendem um conceito equivocado com, por exemplo, a permissão de construção de prédios sem garagem, mas sem observar que aqui o transporte público não é eficiente. É triste ver que estamos sendo representados por pessoas que não se importam com a cidade. Por isso, cada bairro está se mobilizando, nos grupos temos advogados, juízes, cada bairro está travando uma luta e o interesse está aumentando”, conclui.
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