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História

O Setor Sul nasceu da visão de Armando de Godoy, engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e considerado um dos mais importantes urbanistas brasileiros da primeira metade do século XX. Godoy conferiu ao bairro traços tipicamente residenciais, concebendo-o sob forte inspiração do movimento das cidades-jardim. Sua referência foi a cidade de Radburn (EUA), projetada por Clarence Stein em 1929.

Projeto Original

  • Área Total – 3.255.276 M²
  • Áreas Verdes Públicas – 17,33%
  • Área Livre por Habitante – 14.72 M²
  • Total 28 Áreas Verdes
  • Lotes – 56%
  • Vielas, Calçadas e Praças – 15,02%

A preocupação com a qualidade de vida dos indivíduos que habitariam a nova capital esteve presente no início do seu planejamento.

Um trecho de uma publicação datada de 1942 e de autoria de Geraldo Teixeira Alvares – Goiânia, Uma Obra da Engenharia Nacional –, ao apresentar o processo de planejamento da nova capital, elenca os quatro setores planejados inicialmente para a formação da cidade – Central, Norte, Sul e Oeste – e revela o conceito norteador do projeto de Goiânia:

“Estes setores não formam conjuntos isolados, elementos urbanos completos e apenas ‘localizados’ adjacentes.

Não, cada um deles, tendo a satisfazer determinadas funções da vida, são interdependentes, formando um todo único, uma única cidade completa, dotada de ambiente propicio ao desenvolvimento, de todas as funções da vida do homem,  que será Goiânia, quando completamente desenvolvida.

Permita-nos dizer de passagem, que não queremos significar que estamos projetando todos esses ambientes – o que é impossível, dada a evolução imprevisível da vida humana – queremos, isto sim, significar que estamos tomando o homem como ponto de partida para todos os estudos de urbanização. ” (ALVARES,1942, p.27) [1] ALVARES, Geraldo Teixeira. A Luta na Epopéia de Goiânia: uma obra da engenharia nacional. Rio de Janeiro: Of. Graf. Do Jornal do Brasil, 1942.”

O Setor Sul nasceu com Goiânia, estava lá no primeiro traçado de Attílio e foi depois redesenhado, a pedido dos irmãos Coimbra Bueno, por Armando de Godoy, engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e considerado um dos mais importantes urbanistas brasileiros da primeira metade do século XX.

O Projeto

Godoy, inspirado no conceito inglês da cidade jardim de Howard e nos moldes do subúrbio americano de Redburn nos Estados Unidos, projeta então um bairro jardim para a capital que nascia.

O traçado do Setor Sul traz como referência um conceito urbano que busca, principalmente a preocupação com o bem-estar dos habitantes, considerando a integração entre o homem e a natureza. Essa preocupação se concretiza em um traçado orgânico, com unidades de vizinhança entremeadas por amplas áreas verdes e recantos.

Suas ruas foram pensadas de modo a obedecer a uma hierarquia que considera a intensidade do tráfego, buscando separar as vias de pedestres das vias de automóveis. No traçado original do bairro foram desenhadas as vias arteriais, as vias coletoras, as vias locais e cul-de-sacs, as vias de circulação de pedestres, localizadas nas abundantes áreas verdes e vielas, as praças, as quadras e os terrenos para as casas, dispostos no traçado de modo a favorecer o convívio entre as pessoas. Em sua concepção original quase todos os lotes possuíam duas frentes, abrindo-se tanto para um cul-de-sac (rua sem saída) quanto para uma área verde, no interior da quadra. As vias que cortam as áreas verdes foram projetadas para servir de acesso principal às residências, enquanto os cul-de-sac foram concebidos como ruas de serviço. Vias arteriais ligam o sul ao centro e aos demais bairros da cidade. No projeto de Godoy, essas vias foram concebidas como um asterisco a partir uma grande praça circular, a Praça do Cruzeiro hoje denominada Praça Germano Roriz.

O projeto do bairro foi aprovado em 1938. A princípio, previu-se sua implementação somente a partir de 1962. Entretanto, o Governo do Estado iniciou a venda de lotes no bairro ainda em 1937. Em 1950, pressionado pelos proprietários e pela contínua incidência de invasões na área destinada ao futuro bairro, o Governo liberou a ocupação dos terrenos. A antecipação da permissão para construções no bairro anteriormente à conclusão de sua urbanização favoreceu bastante a descaracterização do projeto original. Por ignorarem o projeto, a maior parte dos proprietários dos terrenos terminou por construir as edificações com as frentes voltadas para os cul-de-sac e os fundos para as áreas verdes. A urbanização do bairro dar-se-ia, em ritmo lento, ao longo das décadas de 50 e 60, mas negligenciava muitos aspectos do projeto, especialmente as áreas verdes. Muitas de tais áreas foram legal e ilegalmente apropriadas por donos de lotes adjacentes. Outras converteram-se em espaços baldios.

Projeto Cura

Desde então, ocorreram outras tentativas de reurbanização do bairro. A mais notável destas tentativas foi o Projeto CURA, patrocinado pelo antigo Banco Nacional da Habitação (BNH). O Projeto foi lançado em 1973, iniciado em 1977 e concluído em 1980, mas sem contar com massivo apoio da comunidade local. Seu principal resultado foi a urbanização de diversas das áreas verdes do bairro, muitas das quais foram arborizadas e equipadas com espaços de diversões, bancos, postes de iluminação e quadras poliesportivas. Contudo, a despeito desta e de outras tentativas de reestruturação, o Setor Sul permanece ainda bastante distante do ideal que orientou sua concepção.

Invasões e Desrespeito ao Traçado Histórico

Desde sua implantação o Setor Sul sofre transformações marcadas pela descaracterização de seu traçado original, pela invasão de suas áreas verdes e pelo descaso do poder público.

Dentre alguns exemplos de transformação podemos notar algumas perdas de difícil reparação. O plano original da cidade previa por exemplo a preservação permanente de uma área de nascente do Córrego Buritis localizada entre as ruas 87, rua 248, rua 132 e avenida 136. Esta área foi, já há alguns anos, doada para a construção de clubes sociais de entidades sindicais dentre elas o Clube dos Sargentos e Tenentes, o Clube de Engenharia e a sede do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). A verticalização do entorno também é um fator de transformação importante que tem trazido consequências à nascente do Córrego com o rebaixamento do lençol freático.

A instalação no coração do bairro em uma região à época prioritariamente residencial, de uma universidade particular, a Salgado de Oliveira, também trouxe impacto grande na região provocando a evasão de moradores antigos e descaracterização do local.

Um outro importante exemplo de área pública que não pode mais ser usada pela população é a quadra F-44 localizada entre as ruas 89 e 90. Trata-se de uma grande área que Godoy, em seu plano original, havia destinado para a locação de uma grande caixa d’agua e uma grande área verde para uso de todos. A caixa d’água ainda existe no local, no entanto, a Companhia Saneamento de Goiás S/A (Saneago) ocupa atualmente toda a área do entorno da caixa. Em uma planta de ocupação do solo datada de 1973 e desenvolvida pelo antigo IPLAN (atual SEPLANH) à época da implantação do projeto CURA, a referida área já constava como totalmente ocupada.

Também uma importante descaracterização a ser notada se refere à área localizada na margem oeste do córrego Botafogo – hoje canalizado e margeado pela via Marginal Botafogo (Chácaras da 115) – essa área era prevista no plano de Godoy para ser um grande parque linear foi invadida e ocupada por moradores ainda nos primórdios de ocupação do bairro, a área que deveria ser de toda a população goianiense, apresenta atualmente um pequeno volume de vegetação e é ocupada por particulares.

A implantação de duas vias que cortaram e descaracterizaram importantes áreas verdes do bairro, as Avenidas Cora Coralina e Maria Joana.
Apesar de tantas perdas, o Setor Sul é ainda o responsável pela drenagem de um grande volume de águas pluviais na região, pela redução das zonas de calor e pela presença de pássaros e pequenos animais que constituem um inestimável patrimônio ambiental urbano.

Além da importância ambiental o bairro representa importantíssimo patrimônio cultural, memória viva dos primórdios da fundação de nossa cidade e objeto de afeto de muitos goianienses.

A APROSUL tem o compromisso de buscar o resgate do traçado e das características originais do bairro, reivindicando junto ao poder público e com o apoio de seus moradores, a revitalização e valorização do traçado e dos espaços do setor Sul.

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