Nós, Aline Mello e Edmilson Moura, na condição de cidadãos goianienses e membros fundadores da…
Alguns pontos do projeto podem alterar completamente a estrutura do bairro.
Na proximidade da votação do Plano Diretor, os debates estão acalorados na sociedade civil diante de alguns pontos propostos. Algumas regiões sofrerão impactos maiores que as outras. Sob a ótica de moradores que viveram uma vida inteira na região do Setor Sul, por exemplo, o projeto traz ameaças de uma degradação ainda maior do ‘Bairro Jardim’, como o setor também é chamado. Alguns pontos do projeto podem alterar completamente a estrutura do bairro, como o fim das pracinhas ou a união de lotes vazios próximos a vias de grande circulação.
O texto que pode aprovar a possibilidade da extinção de pequenas iniciativas de moradores que atuam na manutenção das praças e vielas que foram, desde sempre, um ponto de encontro de moradores que ocupam os espaços de maneira saudável e preservam a história do desenho urbano da região.
Em tempos de letargia onde acostumou-se a usar o carro para tudo; desde comprar um pãozinho para o café; o bairro corre o risco de perder sua concepção original. Em que os encontros eram o cotidiano pelas locomoções feitas a pé.
Com o abandono, por parte do poder público em décadas passadas, o Setor Sul e sua rede de praças e vielas foram tomadas por mato alto, violência e pouco uso dos espaços pensados por Armando de Godoy na fundação de Goiânia até meados dos anos 2000.
“Na praça do fundo da minha casa foi onde eu e os vizinhos brincávamos quando crianças”, diz Lucas Maximiliano, 28 anos, psicólogo e morador do bairro. Ele contou, nostálgico, sobre sua infância nas praças da região. Ele nos contou, ainda, que os encontros são favorecidos pela possibilidade de “existir um bosque no meio do concreto” em meio ao desenho urbano da região, pondera ele.
Iniciativas de moradores de outros bairros, especificamente, um grupo de pessoas LGBTQIA+, ocupam também as quadras esportivas da região às terças, sábados e domingos, para brincar de queimada, grupo no qual Lucas é participante, que é apelidado de Queermada. Alusão a palavra queer, que classifica parte da comunidade homossexual.
No conteúdo do atual Plano Diretor em debate na Câmara dos Vereadores, uma das grandes reivindicações da população é evitar que o bairro se transforme em bairro de passagem por meio do direcionamento de veículos vindos da região dos condomínios por eixos como o da Avenida 88, sem pensar em modais de transporte que comportem a demanda de veículos.
Adensamento
Outra questão importante é a liberação de unidades residenciais de 15 m². Que, segundo especialistas entrevistados pelo O Hoje, poderiam trazer grande volume de veículos que seriam direcionados para as apertadas vias da região – onde, na atualidade, já cabem pouquíssimos.
O setor imobiliário argumenta que isso permitiria moradias mais acessíveis na região central da cidade. “Mas se observarmos o exemplo de outras metrópoles como São Paulo, por exemplo, empreendimentos do tipo são comercializados por R$ 350 mil ou mais, em regiões com infraestrutura semelhante. O que sai completamente do conceito inclusivo argumentado pelas construtoras. O que se nota, ao analisar, as entrelinhas da proposta em debate na Câmara dos Vereadores”, completa Lucas.
Ele compara a medida ao que já ocorre com a praça da quadra F-22 nas proximidades da rua 104 com Rua 86. Onde o que era uma praça, foi invadido para virar estacionamento. Observa-se que a própria população que reside no bairro tenta manter a sobrevida dos praças originais, – sem muito sucesso, como o caso da praça – mas em outras situações, mantêm o comando para si dos cuidados com os espaços. A exemplo da revitalização do Bosque dos Pássaros, Bosque da Amizade e Bacião onde os moradores cuidam da preservação desses locais.