Nós, Aline Mello e Edmilson Moura, na condição de cidadãos goianienses e membros fundadores da…
O Setor Sul é um bairro de Goiânia cheio de vielas, ruas sem saídas e praças verdes localizada na região Central. Ele foi projetado pelo urbanista Armando de Godoy baseado na definição de Cidades Jardins. O bairro, um dos primeiros núcleos habitacionais de Goiânia, constitui patrimônio paisagístico, histórico e ambiental da cidade.
No entanto, ao longo dos anos, o abandono pelo poder público resultou na descaracterização do bairro. Se não fosse pela ação dos próprios moradores, muitas das praças estariam completamente abandonadas.
Recentemente, o moradores do bairro fizeram um abaixo assinado online (aqui) solicitando a proteção e tombamento do traçado histórico do Setor Sul, em Goiânia, e de suas áreas verdes. Os moradores são contra a construção de edifícios no local através da venda de áreas públicas e o remembramento dos lotes (unificação de dois ou mais terrenos vizinhos) com as praças e ruas secundárias.
Setor Sul, Goiânia e a definição de Cidades Jardim
Goiânia nasceu como uma cidade para 50 mil habitantes e foi projetada por Attílio Corrêa Lima, engenheiro e arquiteto, graduado urbanista em Sorbonne, em Paris. Dessa forma, o projeto de Goiânia sofreu fortes influências parisienses, principalmente do Art Déco.
O projeto de Goiânia foi traçado em três pilares: sistema viário, o zoneamento e a configuração do terreno, levando em consideração, sobretudo, a funcionalidade. Assim, as vias foram planejadas de acordo com a intensidade e direção do tráfego.
Contudo,em 1935 Attílio deixa o projeto, que passa a ser dirigido pela construtora Coimbra Bueno que, por sua vez, contrata o arquiteto Armando de Godoy. Ele então elabora um novo plano para o Setor Sul, aplicando os princípios de bairro-jardim de Ebenezer Howard.
O urbanista inglês propunha o fim da dualidade entre os mundos urbano e rural, pois entendia que a solução para os problemas das cidades era criar atrativos que reconduzisse o homem ao campo. Dessa forma, esses locais seriam cercados por cinturão verde, com rodovias radiais saindo do parque central e dividindo a cidade em seis setores. Além disso, junto ao parque teria escolas, bibliotecas e igrejas.
Assim, o Setor Sul foi projetado respeitando a declividade natural do local, composto por quadras e lotes irregulares unidos por um sistema de parques internos, e para preservar a vegetação abundante. A entrada social dos lotes deveria ser voltada para o interior das áreas verdes e a entrada de serviço para as ruas com cul-de-sac (ruas sem saída), sendo a saída principal dos carros, separando o máximo possível as ruas de residência das de tráfego.
Ocupação do bairro
A ocupação do Setor Sul iniciou somente na década de 50, deixando o projeto de Armando de Godoy de lado. Os moradores construíram as casas de frente para as ruas sem saída e de costas para os jardins, principalmente por conta das pressões do mercado imobiliário e a utilização dos carros como meio de transporte principal. Além disso, por falta de recursos, muitos urbanizou apenas pequenas faixas do lote, especialmente os fundos, deixando o restante para serem utilizados futuramente.
Dessa forma, na década de 1970, havia uma grande quantidade de terrenos vagos no bairro.
Projeto Cura
Em 1973 foi formulado o Projeto Comunidade Urbana para Recuperação Acelerada (Cura), composto por 32 praças do Setor Sul, e que visava estimular a ocupação de lotes baldios e integrar a região central por meio de praças de convivência. Na época foram definidas prioridades como: urbanização das áreas livres, instalação de equipamentos de lazer, playgrounds, quadras esportivas, postes de iluminação, bebedouros, entre outros. Contudo, ele foi concluído na década de 80.
Fontes: